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Foto do escritorAline Fiuza

Bandeira e cabeça erguidas: Edilaine Dantas nos campos de futebol

A barbalhense árbitra assistente federada no Ceará conta os desafios de ser uma mulher na arbitragem de futebol


Foto: Aline Fiuza

Lugar de mulher é onde ela quiser. Porém, na arbitragem de futebol as mulheres ainda não conquistaram efetivamente seu espaço e são rodeadas por olhares preconceituosos quando estão em campo. Aos 28 anos, Edilaine Dantas, árbitra assistente federada no Ceará, sonha em mudar esse cenário ainda machista dentro do futebol. A barbalhense começou a atuar como bandeirinha aos 15 anos em campeonatos amadores na região do Cariri.


A paixão pelo esporte vem desde criança, mas atuar como jogadora não era uma vontade. O interesse pela arbitragem surgiu ao ver outras mulheres dando seus primeiros passos nesse meio. “Eu vi algumas mulheres atuando na área da arbitragem e isso me chamou atenção. Eu fui investigando como fazer o curso para se tornar uma árbitra assistente e fui até o fim”, conta Edilaine.


Para se tornar federada e poder atuar profissionalmente nos campeonatos cearenses, é necessário participar do curso de formação de árbitros de futebol, que tem duração de seis meses. Edilaine fez o curso e os testes de aptidão entre 2010 e 2011 em Fortaleza, à 600 km de distância de Barbalha, onde reside. Ela conta que esse foi um período complicado na sua vida, por causa da distância e dos altos gastos de locomoção para a realização do curso. Mas nada disso a impediu de concluí-lo e de realizar seu objetivo de tornar-se federada.


Apesar de sua perseverança, Edilaine viu seu sonho ser pausado pela distância. Antes de poder atuar nos jogos profissionais da região do Cariri, a bandeirinha precisa de experiência, atuando em jogos menores como os das categorias de base. Estes jogos só são realizados em Fortaleza, assim, ela precisaria morar na capital ou se locomover de Barbalha para lá em todas as partidas. Por falta de apoio e investimento dos empresários do Cariri, essas opções ficaram inviáveis para Edilaine. Assim, não conseguiu atuar profissionalmente e continuou assistenciando os jogos amadores sem pensar em desistir do seu maior sonho: tornar-se árbitra assistente CBF.


Na região do Cariri, ela é a única mulher vinculada à federação cearense, então sempre trabalhou ao lado de árbitros homens. Ela conta que sempre foi respeitada pelos seus companheiros de trabalho, mas que o mesmo não acontecia quando se tratava da torcida e dos jogadores, que sempre tinham dúvidas e questionavam se ela iria bandeirar bem e acertar os lances, pelo fato de ser uma mulher. Além disso, Edilaine conta que dá para escutar o que a torcida fala, mesmo mantendo-se concentrada no jogo, e que xingamentos e comentários como “ei gatinha”, “gostosa” e “ô lá em casa” são comuns dentro do estádio. A assistente comenta que infelizmente isso faz parte e que nesse momento tem que deixar de lado e manter o profissionalismo.


Quando perguntada sobre sua família, Edilaine diz que sempre recebeu apoio, com exceção da sua avó materna. “Quando eu ia para o sítio, eu ficava jogando bola, fazendo embaixadinha e minha avó pegava um chicote e corria atrás de mim dizendo que aquilo era coisa de homem. Mas eu dizia que mulher também podia jogar. Minha avó até hoje tem um pouco de preconceito”. Mas nada disso abala a barbalhense que acredita que mulheres podem trabalhar com o mesmo desempenho dos homens e muitas vezes até melhor: “A mulher é mais prestativa, presta mais atenção em cada detalhe, então eu acho que uma mulher até bandeira jogos melhor do que alguns homens”.


Em relação ao fim desse preconceito Edilaine é otimista. Ela acredita que com um número maior de mulheres na área e com o consolidamento delas no profissional com boas atuações, o respeito pode sim ser estabelecido. Muitas vezes as próprias mulheres desistem antes mesmo de tentar, pelo paradigma de que o futebol é apenas para os homens. “As vezes eu acho que o preconceito em si parte também da mulher, pelo fato dela ter medo de se envolver naquela profissão por ser mais masculinizada. Mas essas barreiras devem ser rompidas, porque do mesmo jeito que um homem pode efetuar um belíssimo trabalho, a mulher também pode. Tem que inserir novas mulheres nessa área para provar que a mulher em si pode fazer um diferencial muito grande no futebol e juntos aos homens efetuar um belíssimo trabalho dentro do campo”, diz a assistente.


Mas dá para entender o pensamento confiante de Edilaine. Nos últimos anos, a federação cearense tem oferecido muitas oportunidade às mulheres. O que acontece é a falta de interesse e de iniciativa de muitas delas. Na época de Edilaine, apenas quatro mulheres fizeram o curso, e destas ela é a única que ainda permanece dentro do meio. Todas as outras desistiram. Já recentemente, o número da participação feminina no curso cresceu e hoje a federação cearense conta com onze mulheres atuando no profissional e nas categorias de base. Isso é um grande passo dado em direção à igualdade de gênero dentro da arbitragem de futebol.


Atualmente Edilaine está afastada da arbitragem por não conseguir conciliar os jogos com o seu emprego fixo. Mas ela não pretende desistir do seu sonho e conta que está pensando em retornar aos campos em pouco tempo: “Eu to pensando em voltar à federação cearense, já conversei com o pessoal que está à frente e eles falaram que as portas estão abertas para mim. Quando eu for pra lá e trabalhar nas bases, poderei atuar profissionalmente aqui na minha região. É um grande desejo. Eu penso em voltar em janeiro de 2019. E a partir de agora vou correr atrás de patrocínio e de apoio, porque é necessário. Se eu chegar à CBF, que é meu maior objetivo e sei que com minha força de vontade e determinação eu consigo, eu vou representar não só Barbalha, mas toda a região do Cariri”.

 

Texto originalmente publicado na Revista Bárbaras em outubro de 2018.


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